domingo, 10 de dezembro de 2017

Pink Floyd - Another Brick In The Wall (HQ)



      Encerrando o semestre com o clássico do Pink Floyd, que de forma provocante, ao melhor estilo rock and roll, retrata o ponto culminante da educação tradicional, pedagogia diretiva. Que por sua vez, ignorava a singularidade de cada indivíduo, tentando massificar o pensamento como se pessoas fossem produtos. No entanto apesar desse contexto ser diferente do atual cenário educacional, essa linha conservadora ainda tem raízes remanescentes, mesmo que num grau menos agressivo mas não menos prejudicial, retardando o desenvolvimento social de países que seguem as políticas neoliberais, por exemplo. Que entendem a escola como uma mera fábrica para a mão de obra, abortando a autonomia e o pensamento crítico tão essenciais a promoção da cidadania.

sábado, 9 de dezembro de 2017

DISTINTAS INFÂNCIAS





ROTEIRO (Filme produzido para a Interdisciplina Questões Étnico-Raciais na Educação: Sociologia e História)

Alunas: Alessandra Thornton e Daniela Paixão

Título:
               DISTINTAS INFÂNCIAS
Sinopse:
Uma menina indígena e um típico menino urbano têm as suas vidas ligeiramente
cruzadas sem conhecer-se, pois vivem em distintas infâncias.

Desenvolvimento:
Sol ardente lá fora,
grande movimentação nas ruas, trânsito lento, mas em seu pequeno espaço (caixote/quarto)
ele está desligado da realidade a sua volta, precisa freneticamente avançar de
fase em seu jogo no videogame, é assim que Felipe costuma passar as suas
tardes. Pela manhã vai à escola, toma o café da manhã rapidamente com sua mãe, a
Van escolar lhe pega em frente ao seu edifício, durante todo o percurso,
utilizando fones de ouvido, Felipe vai vidrado em seu celular perpassando entre
músicas, vídeos e mensagens no wattszapp. Há apenas um momento no trajeto que
ele volta a sua atenção para a janela é quando a Van passa por uma pequena
praça fazendo a curva para entrar na rua da sua escola, sempre fica curioso,
pois todos os dias naquele mesmo lugar está uma menina, de traços tipicamente
indígenas, sentada envolta de algumas cestas de vime ao lado de uma senhora
aparentando ser sua mãe. Fica a indagar-se o porquê de ela estar ali e não na
escola como ele.  
Na escola, apesar de
ser um típico garoto de dez anos de idade, da cidade grande, Felipe é retraído
e não tem muitos amigos. No que a própria sala de aula estruturadamente
delimitada encarrega-se de favorecer. Tempos atrás a professora demonstrou
certa preocupação com sua aprendizagem ao relatar a sua mãe que não está
correspondendo ao esperado, o seu comportamento tem se modificado e as suas
notas estão em declínio, aconselhou inclusive um acompanhamento psicológico.
Há alguns meses, o seu
avô foi instalado em uma casa geriátrica, a sua mãe lhe disse que já não havia
mais condições de ele morar ali, pois já estava apresentando alguns sinais de
avanço do Alzheimer e ela não conseguiria dar conta de atendê-lo. Entretanto o
seu avô era a única pessoa a lhe dar atenção, importava-se em brincar e
conversar com ele durante as tardes ociosas e agora não tinha mais ninguém. Mal
via o seu pai, este havia ido embora de casa, quando Felipe tinha apenas um ano,
e assumido outra família. Desde então a sua mãe esforçava-se para manter a
família, trabalhava arduamente como balconista em uma farmácia, dava o seu
melhor, mas mal conseguia lhe voltar à atenção, além de passar muitas horas
longe de casa no trabalho, tinha que cuidar sozinha dos afazeres domésticos.
A vida aprisionada e
solitária de Felipe, uma criança de dez anos que passa horas em frente ao vídeo
game, sem muitas oportunidades de explorar diversas vivências relacionadas ao
brincar é uma condição freqüente na atualidade, assim como o isolamento de pessoas
idosas.
Há alguns quilômetros
da escola de Felipe, em suas tardes, Naná aos nove anos de idade corria livre
pela reserva indígena, o seu lar, correspondendo em torno de 25 hectares de
terra onde vivem dezesseis famílias, ao centro têm uma grande área livre
própria para as suas reuniões, algumas singelas casas bem distribuídas, um
pequeno açude e algumas árvores frutíferas. Nas proximidades da aldeia também
tem uma escola, com peculiaridades próprias, dentre as quais está o fato de não
possuir divisões ou as limitadoras classes enfileiradas, as crianças sentam-se
livremente normalmente em círculo, os horários são flexíveis, há professores
indígenas e não indígenas e a alfabetização se dá em duas línguas a materna e o
português.
Naná é uma criança
muito alegre e expressiva adora jogos e desafios, que naquele lugar parece
favorecer não só a competição, mas a confraternização tem um relevante
destaque. Mesmo com o crescente acesso a brinquedos prontos e as tecnologias,
as brincadeiras locais não ficam esquecidas. Destaca-se em um jogo característico,
com o nome de Buso criado a partir de sementes e com regras peculiares,
confeccionar brinquedos com bambu, jogar futebol, correr, pular subir em
árvores, banhar-se no açude na companhia de outras crianças também estão dentre
as suas brincadeiras favoritas. Lá as brincadeiras misturam-se, algumas tem a
preferência das meninas e outras dos meninos, mas por diversas  vezes brincam juntos. Aliás, brincar é algo
que as crianças de lá fazem quase que em tempo integral, vivem experiências
lúdicas mesmo quando estão entre adultos participando de alguma atividade
importante para a comunidade.
A menina também
acompanha a sua mãe na venda e confecção de artesanatos tais como tecelagens e
pinturas, além de participar de afazeres como ralar a mandioca, preparar a
farinha, dentre outras atividades no qual as mulheres da aldeia são habilmente encarregadas.
Na aldeia desde pequenas as crianças apropriam-se de algumas responsabilidades
concernentes aos adultos participando de quase todas as atividades aprendendo
técnicas e conhecimentos, esse processo é entendido como uma importante manutenção
e fortalecimento da sua cultura e dos seus costumes, valorizam-no como forma de
proteção e constituição da identidade.
 A mãe muito carinhosa e de olhar firme é a
principal referência adulta para Naná, as duas são muito unidas, assim como ela
a sua avó, que sabiamente lhe falava, lhe inspiram conforto e segurança. No
entanto na aldeia cada criança é entendida como de responsabilidade de todos os
adultos, prudentemente todos compreendem que cada gesto e diálogo as preparam
para a vida e consequentemente educam, buscam viver em uma perfeita integração
onde cada um dá a sua contribuição e todos se auxiliam mutuamente, inclusive
compreendendo o valor da natureza para a preservação da sua cultura.
Apesar de Naná sofrer
com os olhares inquisidores ou indiferentes que a vêem sentada junto de sua mãe,
na praça em meio à cidade movimentada, entende que são lançados por quem
desconhece a riqueza de sua resistente cultura ou não compreendendo as suas
especificidades. Ela aos poucos assimila a complexidade do mundo a sua volta, a
segregação lhe parece estranha e incompreensível, mas o seu sorriso deixa
transparecer a alegria de uma criança que sabe que é amada por sua família.


Referências

BERGAMASCHI,
Maria Aparecida; GOMES, Luana Barth. A
TEMÁTICA INDÍGENA NA ESCOLA: ensaios de educação intercultural.
UFRGS.
Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, pp. 53-69, Jan/Abr 2012.
FERREIRA,
Bruno. EDUCAÇÃO KAIAGANG: Processos
Próprios de Aprendizagem e Educação Escolar
. FACED/UFRGS. Porto Alegre
20014.
RODRIGUES,
Lilian Beatriz Schwinn; BELTRAME, Lisaura Maria. A CRIANÇA KAINGANG E SEUS BRINCARES. UNOCHAPECÓ. Curitiba 2013.



Diversidade e Preconceito na Escola

No ambiente escolar mesmo havendo o discurso da necessidade de abraçar a diversidade e de quebrar paradigmas (o rótulo, combatendo o bulling, o sexismo) também não está isento de interferências de conceitos próprios, pré-conceitos particulares explícitos ou não, tanto dos professores como da própria instituição em si, tendo em conta que o próprio calendário de datas comemorativas escolares é tendencioso e não representa toda a nossa sociedade. A escola é uma instituição socializadora e de representatividade social, onde muitas questões enraizadas de cunho ético, moral, cultural e religioso são colocadas em cheque, também é um espaço de confrontos de ideias e princípios, do enfrentamento de questões externas que transpõem o seu interior.
No que diz respeito à inclusão de pessoas com deficiência a nossa sociedade está a passos lentos tentando compreendê-las e inseri-las em diversos âmbitos, tentativa essa que se configurou apenas após o enfrentamento de muitas lutas no que tange a concessão de direitos e da garantia do pleno exercício da cidadania por parte dessas pessoas. O que não significa que já se tenha concretizado, que a luta acabou ou que é somente de um pequeno grupo.
        Em se tratando dos professores se pensarmos que assim como cada aluno eles também se constituem sujeitos históricos representantes de toda uma sociedade que ainda tem raízes no preconceito fica fácil compreender, uma postura talvez desajeitada, no enfrentamento do novo e ao lidar com questões que fogem a sua plena compreensão ou que confrontem o seu conhecimento prévio. Por esse motivo talvez, muito também decorrente das suas próprias vivências, das suas emoções externadas no campo da experiência com o diferente, é que apareçam termos inadequados ao referir-se a alunos com necessidades educacionais especiais ou até mesmo a tentativa de enquadrá-los em um perfil estigmatizado desrespeitando a singularidade de cada um. Como, por exemplo, o pensamento colocado pela autora Lígia Amaral no texto “Sobre Crocodilos e Avestruzes” ao dizer que: “se uma atividade é boa para essa pessoa com deficiência também será boa para todas as pessoas nessas condições”. Ou até mesmo o julgamento depreciativo no sentido de subestimar a capacidade de um aluno, por alguma condição diferente, também é observável no ambiente escolar. 
A autora Lígia Amaral também coloca como um empecilho o “desconhecimento concreto e vivencial desse algo ou alguém assim como as nossas próprias reações diante deles”. Assim penso na necessidade de se quebrar esse muro limitador que impede a aproximação das pessoas, pensando na escola como um local de socialização, quem sabe a complexidade da relação professor aluno, nesse aspecto, seja exatamente o despertar da consciência da suas próprias limitações, por parte dos professores. No caso quando nos defrontamos com um sujeito que nos assinala a nossa própria deficiência, talvez essa barreira seja uma auto defesa, pois é difícil para o professor assumir a postura de que ele é quem não sabe como lidar com determinada situação, inclusive essa posição de negação da própria inabilidade pode ser devido ao peso que carrega sozinho de que deva ter essa competência.
Trazendo essa reflexão a minha prática certamente já experimentei essa sensação de inaptidão, já tive alunos que me fizeram parar e mudar de atitude, ter de buscar alternativas como ir atrás de cursos específicos ou chamar a família para conversar, para desse modo conseguir compreendê-lo melhor. Na prática considero que o mais relevante seja se colocar disposto a abandonar conceitos, estar disponível a aprender também, buscar a aproximação com os alunos estando consciente de que também tem limitações a vencer.
 Pensando assim é notório que todos têm limitações, todos somos diferentes e essa conscientização deve ser propagada, até mesmo por que não podemos esquecer que muitos em nossa história já sofreram (mulheres acusadas de bruxas e deficientes foram queimados, além da escravidão negreira, entre outros) e muitos ainda sofrem ao se depararem sozinhos com a sua diferença, colhendo a injúria e a indiferença por parte de uma maioria sem consciência, quantas infâncias foram e ainda serão arrebatadas pelo algoz do preconceito. Podemos aprofundar essa reflexão com a seguinte citação de Amaral:
 “(...) a presença de preconceitos e a decorrente discriminação vivida, ainda com mais intensidade, pelos significativamente diferentes, impedindo-os muitas vezes, de vivenciar não só seus direitos de cidadãos, mas de vivenciar plenamente sua própria infância.”
Concluindo, o preconceito é cruel e deve ser combatido, mas acredito que a melhor maneira de enfrentá-lo seja conhecendo-o de perto, a sua expressão que é por vezes subliminar, quem sabe buscando entender que todos têm limitações que podem ser transponíveis, talvez seja o primeiro passo. Já que é possível que o preconceito encontre suas raízes em cada um de nós também, mesmo naqueles que afirmam piamente em não tê-lo, pois somos todos submetidos à massificação generalizada introduzida pêlos meios midiáticos, são modelos de comportamento, padrões de beleza e concepções que também influenciam em nossas atitudes. Resumindo, o preconceito e o conseqüente ato discriminatório são um mal que devem ser erradicados no âmago da nossa sociedade, erradicados de nossas cidades, de nossos bairros, da nossa rua, das escolas, de nossos lares, dentro da convivência com nossos familiares e do interior de nós mesmos.

  
Referências:

AMARAL, Lígia Assumpção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação. In: AQUINO, Júlio Groppa. Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998. p. 11-30.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Crash - No Limite (Trailer)



   Lançado em 2005 esse instigante e dramático filme do autor/roteirista Paul Haggis tem como cenário Los Angeles / EUA, paragem de muitos imigrantes, mesmo sendo uma ficção não deixa de emocionar pelo realismo da sua narrativa. O filme aborda a temática do preconceito e da discriminação tão presentes nas distintas camadas que compõem a sociedade norte americana, por meio de histórias de vidas que se cruzam ao longo do enredo, construindo uma trama envolvente. Retratando em muitos momentos cenas não tão distantes do nosso cotidiano (Brasil), uma elite em sua maioria branca, um povo miscigenado, ambos envolvidos em situações que denotam atitudes preconceituosas, racistas, em algumas vezes explícitas e outras velada. E ainda o evidente clima de tensão, desconfiança e medo presentes na trama, revelando a falta de ética, o individualismo e a solidão.
   Esse longa é capaz de provocar raiva e lágrimas ao mesmo tempo e de nos transportar ao lugar dos personagens. Direcionando o nosso olhar para o outro, com diferenças raciais, étnicas, religiosas e culturais à parte, expõe o preconceito de forma tão crua que nos leva a refletir: Quem não é, ou já foi, preconceituoso em algum momento? Será que realmente nos conhecemos? Será que basta se dizer não preconceituoso? Quem é verdadeiramente bom ou mau? Conseguimos ser éticos em todas as nossas atitudes?
  Uma vez que, esse semestre trouxe a tônica a amplitude das relações humanas, abordando a diversidade, o preconceito e questões como a ética e a moral, considerei interessante correlacionar com esse filme, que por vezes nos permite divagar pelas implicações sociais e inclusive ver o outro refletido em nós mesmos.