sábado, 9 de dezembro de 2017

Diversidade e Preconceito na Escola

No ambiente escolar mesmo havendo o discurso da necessidade de abraçar a diversidade e de quebrar paradigmas (o rótulo, combatendo o bulling, o sexismo) também não está isento de interferências de conceitos próprios, pré-conceitos particulares explícitos ou não, tanto dos professores como da própria instituição em si, tendo em conta que o próprio calendário de datas comemorativas escolares é tendencioso e não representa toda a nossa sociedade. A escola é uma instituição socializadora e de representatividade social, onde muitas questões enraizadas de cunho ético, moral, cultural e religioso são colocadas em cheque, também é um espaço de confrontos de ideias e princípios, do enfrentamento de questões externas que transpõem o seu interior.
No que diz respeito à inclusão de pessoas com deficiência a nossa sociedade está a passos lentos tentando compreendê-las e inseri-las em diversos âmbitos, tentativa essa que se configurou apenas após o enfrentamento de muitas lutas no que tange a concessão de direitos e da garantia do pleno exercício da cidadania por parte dessas pessoas. O que não significa que já se tenha concretizado, que a luta acabou ou que é somente de um pequeno grupo.
        Em se tratando dos professores se pensarmos que assim como cada aluno eles também se constituem sujeitos históricos representantes de toda uma sociedade que ainda tem raízes no preconceito fica fácil compreender, uma postura talvez desajeitada, no enfrentamento do novo e ao lidar com questões que fogem a sua plena compreensão ou que confrontem o seu conhecimento prévio. Por esse motivo talvez, muito também decorrente das suas próprias vivências, das suas emoções externadas no campo da experiência com o diferente, é que apareçam termos inadequados ao referir-se a alunos com necessidades educacionais especiais ou até mesmo a tentativa de enquadrá-los em um perfil estigmatizado desrespeitando a singularidade de cada um. Como, por exemplo, o pensamento colocado pela autora Lígia Amaral no texto “Sobre Crocodilos e Avestruzes” ao dizer que: “se uma atividade é boa para essa pessoa com deficiência também será boa para todas as pessoas nessas condições”. Ou até mesmo o julgamento depreciativo no sentido de subestimar a capacidade de um aluno, por alguma condição diferente, também é observável no ambiente escolar. 
A autora Lígia Amaral também coloca como um empecilho o “desconhecimento concreto e vivencial desse algo ou alguém assim como as nossas próprias reações diante deles”. Assim penso na necessidade de se quebrar esse muro limitador que impede a aproximação das pessoas, pensando na escola como um local de socialização, quem sabe a complexidade da relação professor aluno, nesse aspecto, seja exatamente o despertar da consciência da suas próprias limitações, por parte dos professores. No caso quando nos defrontamos com um sujeito que nos assinala a nossa própria deficiência, talvez essa barreira seja uma auto defesa, pois é difícil para o professor assumir a postura de que ele é quem não sabe como lidar com determinada situação, inclusive essa posição de negação da própria inabilidade pode ser devido ao peso que carrega sozinho de que deva ter essa competência.
Trazendo essa reflexão a minha prática certamente já experimentei essa sensação de inaptidão, já tive alunos que me fizeram parar e mudar de atitude, ter de buscar alternativas como ir atrás de cursos específicos ou chamar a família para conversar, para desse modo conseguir compreendê-lo melhor. Na prática considero que o mais relevante seja se colocar disposto a abandonar conceitos, estar disponível a aprender também, buscar a aproximação com os alunos estando consciente de que também tem limitações a vencer.
 Pensando assim é notório que todos têm limitações, todos somos diferentes e essa conscientização deve ser propagada, até mesmo por que não podemos esquecer que muitos em nossa história já sofreram (mulheres acusadas de bruxas e deficientes foram queimados, além da escravidão negreira, entre outros) e muitos ainda sofrem ao se depararem sozinhos com a sua diferença, colhendo a injúria e a indiferença por parte de uma maioria sem consciência, quantas infâncias foram e ainda serão arrebatadas pelo algoz do preconceito. Podemos aprofundar essa reflexão com a seguinte citação de Amaral:
 “(...) a presença de preconceitos e a decorrente discriminação vivida, ainda com mais intensidade, pelos significativamente diferentes, impedindo-os muitas vezes, de vivenciar não só seus direitos de cidadãos, mas de vivenciar plenamente sua própria infância.”
Concluindo, o preconceito é cruel e deve ser combatido, mas acredito que a melhor maneira de enfrentá-lo seja conhecendo-o de perto, a sua expressão que é por vezes subliminar, quem sabe buscando entender que todos têm limitações que podem ser transponíveis, talvez seja o primeiro passo. Já que é possível que o preconceito encontre suas raízes em cada um de nós também, mesmo naqueles que afirmam piamente em não tê-lo, pois somos todos submetidos à massificação generalizada introduzida pêlos meios midiáticos, são modelos de comportamento, padrões de beleza e concepções que também influenciam em nossas atitudes. Resumindo, o preconceito e o conseqüente ato discriminatório são um mal que devem ser erradicados no âmago da nossa sociedade, erradicados de nossas cidades, de nossos bairros, da nossa rua, das escolas, de nossos lares, dentro da convivência com nossos familiares e do interior de nós mesmos.

  
Referências:

AMARAL, Lígia Assumpção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação. In: AQUINO, Júlio Groppa. Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998. p. 11-30.

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