sábado, 9 de dezembro de 2017

DISTINTAS INFÂNCIAS





ROTEIRO (Filme produzido para a Interdisciplina Questões Étnico-Raciais na Educação: Sociologia e História)

Alunas: Alessandra Thornton e Daniela Paixão

Título:
               DISTINTAS INFÂNCIAS
Sinopse:
Uma menina indígena e um típico menino urbano têm as suas vidas ligeiramente
cruzadas sem conhecer-se, pois vivem em distintas infâncias.

Desenvolvimento:
Sol ardente lá fora,
grande movimentação nas ruas, trânsito lento, mas em seu pequeno espaço (caixote/quarto)
ele está desligado da realidade a sua volta, precisa freneticamente avançar de
fase em seu jogo no videogame, é assim que Felipe costuma passar as suas
tardes. Pela manhã vai à escola, toma o café da manhã rapidamente com sua mãe, a
Van escolar lhe pega em frente ao seu edifício, durante todo o percurso,
utilizando fones de ouvido, Felipe vai vidrado em seu celular perpassando entre
músicas, vídeos e mensagens no wattszapp. Há apenas um momento no trajeto que
ele volta a sua atenção para a janela é quando a Van passa por uma pequena
praça fazendo a curva para entrar na rua da sua escola, sempre fica curioso,
pois todos os dias naquele mesmo lugar está uma menina, de traços tipicamente
indígenas, sentada envolta de algumas cestas de vime ao lado de uma senhora
aparentando ser sua mãe. Fica a indagar-se o porquê de ela estar ali e não na
escola como ele.  
Na escola, apesar de
ser um típico garoto de dez anos de idade, da cidade grande, Felipe é retraído
e não tem muitos amigos. No que a própria sala de aula estruturadamente
delimitada encarrega-se de favorecer. Tempos atrás a professora demonstrou
certa preocupação com sua aprendizagem ao relatar a sua mãe que não está
correspondendo ao esperado, o seu comportamento tem se modificado e as suas
notas estão em declínio, aconselhou inclusive um acompanhamento psicológico.
Há alguns meses, o seu
avô foi instalado em uma casa geriátrica, a sua mãe lhe disse que já não havia
mais condições de ele morar ali, pois já estava apresentando alguns sinais de
avanço do Alzheimer e ela não conseguiria dar conta de atendê-lo. Entretanto o
seu avô era a única pessoa a lhe dar atenção, importava-se em brincar e
conversar com ele durante as tardes ociosas e agora não tinha mais ninguém. Mal
via o seu pai, este havia ido embora de casa, quando Felipe tinha apenas um ano,
e assumido outra família. Desde então a sua mãe esforçava-se para manter a
família, trabalhava arduamente como balconista em uma farmácia, dava o seu
melhor, mas mal conseguia lhe voltar à atenção, além de passar muitas horas
longe de casa no trabalho, tinha que cuidar sozinha dos afazeres domésticos.
A vida aprisionada e
solitária de Felipe, uma criança de dez anos que passa horas em frente ao vídeo
game, sem muitas oportunidades de explorar diversas vivências relacionadas ao
brincar é uma condição freqüente na atualidade, assim como o isolamento de pessoas
idosas.
Há alguns quilômetros
da escola de Felipe, em suas tardes, Naná aos nove anos de idade corria livre
pela reserva indígena, o seu lar, correspondendo em torno de 25 hectares de
terra onde vivem dezesseis famílias, ao centro têm uma grande área livre
própria para as suas reuniões, algumas singelas casas bem distribuídas, um
pequeno açude e algumas árvores frutíferas. Nas proximidades da aldeia também
tem uma escola, com peculiaridades próprias, dentre as quais está o fato de não
possuir divisões ou as limitadoras classes enfileiradas, as crianças sentam-se
livremente normalmente em círculo, os horários são flexíveis, há professores
indígenas e não indígenas e a alfabetização se dá em duas línguas a materna e o
português.
Naná é uma criança
muito alegre e expressiva adora jogos e desafios, que naquele lugar parece
favorecer não só a competição, mas a confraternização tem um relevante
destaque. Mesmo com o crescente acesso a brinquedos prontos e as tecnologias,
as brincadeiras locais não ficam esquecidas. Destaca-se em um jogo característico,
com o nome de Buso criado a partir de sementes e com regras peculiares,
confeccionar brinquedos com bambu, jogar futebol, correr, pular subir em
árvores, banhar-se no açude na companhia de outras crianças também estão dentre
as suas brincadeiras favoritas. Lá as brincadeiras misturam-se, algumas tem a
preferência das meninas e outras dos meninos, mas por diversas  vezes brincam juntos. Aliás, brincar é algo
que as crianças de lá fazem quase que em tempo integral, vivem experiências
lúdicas mesmo quando estão entre adultos participando de alguma atividade
importante para a comunidade.
A menina também
acompanha a sua mãe na venda e confecção de artesanatos tais como tecelagens e
pinturas, além de participar de afazeres como ralar a mandioca, preparar a
farinha, dentre outras atividades no qual as mulheres da aldeia são habilmente encarregadas.
Na aldeia desde pequenas as crianças apropriam-se de algumas responsabilidades
concernentes aos adultos participando de quase todas as atividades aprendendo
técnicas e conhecimentos, esse processo é entendido como uma importante manutenção
e fortalecimento da sua cultura e dos seus costumes, valorizam-no como forma de
proteção e constituição da identidade.
 A mãe muito carinhosa e de olhar firme é a
principal referência adulta para Naná, as duas são muito unidas, assim como ela
a sua avó, que sabiamente lhe falava, lhe inspiram conforto e segurança. No
entanto na aldeia cada criança é entendida como de responsabilidade de todos os
adultos, prudentemente todos compreendem que cada gesto e diálogo as preparam
para a vida e consequentemente educam, buscam viver em uma perfeita integração
onde cada um dá a sua contribuição e todos se auxiliam mutuamente, inclusive
compreendendo o valor da natureza para a preservação da sua cultura.
Apesar de Naná sofrer
com os olhares inquisidores ou indiferentes que a vêem sentada junto de sua mãe,
na praça em meio à cidade movimentada, entende que são lançados por quem
desconhece a riqueza de sua resistente cultura ou não compreendendo as suas
especificidades. Ela aos poucos assimila a complexidade do mundo a sua volta, a
segregação lhe parece estranha e incompreensível, mas o seu sorriso deixa
transparecer a alegria de uma criança que sabe que é amada por sua família.


Referências

BERGAMASCHI,
Maria Aparecida; GOMES, Luana Barth. A
TEMÁTICA INDÍGENA NA ESCOLA: ensaios de educação intercultural.
UFRGS.
Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, pp. 53-69, Jan/Abr 2012.
FERREIRA,
Bruno. EDUCAÇÃO KAIAGANG: Processos
Próprios de Aprendizagem e Educação Escolar
. FACED/UFRGS. Porto Alegre
20014.
RODRIGUES,
Lilian Beatriz Schwinn; BELTRAME, Lisaura Maria. A CRIANÇA KAINGANG E SEUS BRINCARES. UNOCHAPECÓ. Curitiba 2013.



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