“O indivíduo deve buscar compreender e conhecer ao
máximo o funcionamento da natureza, não para dominá-la e controlá-la, mas para
seguir e respeitar sua lógica, seus limites e potencialidades em benefício de
sua própria vida enquanto ser preferencial e privilegiado na criação. O saber é
mais do que querer criar ou saber dizer, é saber fazer, baseado em conhecimentos
acumulados no decorrer da vida.” (LUCIANO, Gersem dos Santos – Baniwa)
A visão da totalidade do mundo,
defendida pelos povos indígenas, advêm da coletividade em que vivem. Esses
povos compreendem a necessidade de viver em harmonia com a natureza, sabem como
aproveitar e extrair os seus recursos sem prejuízo, garantindo que os mesmos
sempre estejam disponíveis. Pois eles, talvez mais do que os outros povos,
atualmente têm plena ciência dos erros cometidos no passado e compreendem o
quanto erraram quando trocaram sua floresta por artefatos e ferramentas
fundidas a ferro, como por exemplo, o machado. Instrumento que contribuiu
inclusive com a quase extinção do pau-brasil, árvore que supostamente deu nome
ao nosso país.
Nos
dias atuais ainda existem muitos conflitos envolvendo as terras indígenas, como
o caso da Fazenda Ivu, pertencente aos povos Kaiowá guaranis, que juntamente de
outras tribos vivem constantes conflitos com madeireiras ou grandes latifundiários,
que ilegalmente exploram suas terras. Talvez a maior simbologia dos povos indígenas,
no que tange a compreensão que tinham da terra e a sua relação com a natureza,
se encontra hoje na entrada da sede do Green peace. O documento seria uma carta
de desabafo que cacique Seatle, do povo Suquamish, escreveu em 1855 em resposta
ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce) com relação à compra das suas
terras. A tal carta acabou
sendo compreendida por muitos ambientalistas com o primeiro registro de defesa
ambiental. Em um dos trechos encontra-se uma passagem que diz: "O que fere a terra fere
também os filhos da terra. O homem não tece a teia da vida; é antes um de seus
fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.” O nome do chefe
Seatle, como é conhecido, acabou inclusive batizando a maior cidade do Estado
de Washington nos EUA.
Ao
viver de forma a priorizar a vida, as comunidades indígenas consideram os
conhecimentos difundidos ao longo da sua constituição, valorizam seus
ancestrais, considerando os métodos que funcionam. Pois essa funcionalidade, baseada
no respeito à ordem natural da vida, provém do conhecimento associado à
prática. O texto “O índio brasileiro” aponta a importância de se desconstruir a
idéia de que os índios não conseguem assegurar a sua própria sobrevivência. A
fim de contribuir para essa desmistificação, trago para exemplo à história dos
imigrantes peregrinos ingleses que aportaram nos EUA no ano de 1620, cujo sem mantimentos
o suficiente, metade da colônia morreu de fome durante o inverno. Não fosse
pelos índios Wampanoag locais terem lhes ensinado o cultivo do milho, da batata
e outras culturas, o restante também teria perecido. Sobreviveram então graças aos ensinamentos
desses indígenas, e a posterior fartura nas colheitas originou o tradicional
“Dia de Ação de Graças” estadunidense.
Concluindo,
o modo individualista e egoísta em que ainda vivemos não compreende um estilo
de vida sustentável, já enfatizado por especialistas no assunto. Colocando a
riqueza material em primeiro lugar abarcamos outras culturas, em detrimento das
mesmas e da terra. Como é o caso também das comunidades quilombolas do Brasil
que lutam para resistir em meio à opressão da cultura do homem branco. O fato é
que a nossa casa, a nossa terra está perecendo e ainda fazemos de conta que não
percebemos, nos preocupando com coisas inúteis, muitas vezes, e fúteis, que
acarretam ainda em um distanciamento de nós mesmos.
Referências:
LUCIANO, Gersem dos Santos - Baniwa. O Índio
Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006.
Wediggen, Laiz; Silva, Paulo Sérgio da. Educação e
respeito ao meio ambiente: a perspectiva emancipatória da Educação na
comunidade remanescente de quilombos de Casca. In: SANTOS (org), Simone
Valdete dos; Silva (org.), Paulo Sérgio da. Proeja Quilombola. Pelotas:
Editora Universitária/UFPEL, 2010. p. 75-76. (Cadernos Proeja II-
Especialização-Rio Grande do Sul. Vol. III).
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