As concepções de Jean
Piaget, Lev Vygotsky e Henri Wallon, apesar de algumas diferenciações,
apresentam de certo modo alguns aspectos semelhantes. A exemplo, temos a
maneira na qual compreendiam as crianças, como um sujeito com capacidades
cognitivas que lhes permitiam a ser ativas, atentas e pensantes em seu
ambiente. Ambos teóricos defendiam a importância da socialização e da interação
do indivíduo com o objeto de aprendizagem.
Para Piaget, no
entanto o desenvolvimento humano se dava por etapas, períodos ou estádios:
sensório-motor (entre 0-2 anos), pré-operatório(entre 2-6 anos), operatório
concreto(entre 7-11 anos) e operatório formal(inicia-se por volta dos 12 anos),
entretanto a faixa etária que compreende cada qual, pode ser variável, sendo
que a passagem para a etapa posterior se dá somente após a completa formação da
primeira. Assim podemos entender que cada fase dessa evolução é marcada por
esquemas endógenos subsequentes o que Piaget determinou de embriologia mental.
Entretanto, apesar de essa embriogênese terminar apenas na fase adulta,
totalizando um contexto biológico e psicológico, diferentemente das faculdades
biológicas, essas fases não desabrocham ao longo da vida do indivíduo, elas não
são previstas. Isto é, nem todos os seres humanos alcançarão todas as etapas do
desenvolvimento mental, pois elas dependem das exigências impelidas pelo meio,
isso quer dizer que o meio estimula as estruturas mentais, que o avanço acontece
a partir da necessidade de raciocinar sobre o objeto proposto.
O trabalho de Montoya
nos leva a entender que na teoria piagetiana o desenvolvimento psíquico do ser
humano acontece basicamente pelo processo de desequilibração e
equilibração.Desse modo, no momento em que o sujeito se vê diante de uma nova
situação de aprendizagem, desequilibra-se, sentindo então a necessidade de
retomar o equilíbrio. A partir desse episódio tem início o processo da
assimilação do novo, que por meio da interação há a apropriação desse elemento,
provocando transformações nas estruturas mentais do sujeito, desse modo
inicia-se o processo de acomodação, que aos poucos alcança certa
organização. Com a internalização desse acontecimento, tem principio
a adaptação externa do indivíduo, que logo irá se deparar com um novo
desequilíbrio, num contínuo movimento dialético. Essa atividade interna pode
ser motivada pela curiosidade, necessidade, dúvida, entre outros, fazendo-se
condição essencial a aquisição de novas cognições.
Dessa forma, Piaget
credita a circunstância da aprendizagem com maior peso a essa movimentação
interna, ou seja, está subordinada ao desenvolvimento, já que defendia que só
era possível o alcance de um determinado conhecimento se as estruturas mentais
tivessem condições para tal, em vista disso, minimizando o papel da interação
social nesse processo.
Já Lev Vygotsky
defendia que o pensamento era moldado pelas condições externas, sendo assim
para ele a historicidade, a cultura, as relações sociais, determinavam profundamente
o modo de pensar. Ou seja, se para Piaget a criança é quem age sobre o meio
estruturando o seu pensar, para Vygotsky o meio é o responsável pela maneira
como a criança formula o seu raciocínio, nos deixa claro que são dois pontos de
vista baseados na interatividade do sujeito.
Desse modo, Vygotsky
acreditava que o desenvolvimento cognitivo é mediado pela proposta do contato
social, através de símbolos representantes de uma cultura. Toda via essa
internalização de significados que vão tomando forma e organizando o psíquico,
não é linear e acontece de forma diferente para cada sujeito, pois é
constituída por experiências individuais. O teórico desenvolveu um reconhecido
trabalho a respeito da formação de conceitos no psiquismo humano, são eles: Os de
senso comum que estão relacionados as atividades e vivencias da vida cotidiana,
formulados sem qualquer prova científica; E os de senso formal, baseados em
conceitos científicos formais, testados, organizados e comprovados de acordo
com os critérios da ciência, são transmitidos ao longo da vida pela escola,
livros e outras experiências de natureza culta, no qual vão aos poucos sendo
incorporados pelo senso comum do indivíduo.
O avanço em a sua
teoria deu-se sobre a ideia de zonas de desenvolvimento, seriam a real que é
baseada em conceitos já dominados pelo sujeito e a Zona de Desenvolvimento
Proximal que é reservada a aquisição de novos conhecimentos, é uma parte em
potencial e que é sempre ampliada a medida que em se aprende, sendo assim o
percurso cognitivo está sempre em movimento.
O que Henri Wallon inovou, de certo ponto de vista, ao
levar a criança por inteiro para dentro da sala de aula, ao associar as emoções
ao conhecimento. A sua teoria pedagógica fez clara oposição aos métodos
tradicionais de ensino, apontando uma relação estreita entre a afetividade e o
desenvolvimento intelectual. Como um humanitário Wallon sinalizou um aparente
mundo subjetivo que envolve os aspectos cognitivos do ser humano, composto por
um somatório de sentimentos desenvolvidos a partir das relações interpessoais
estabelecidas desde a mais tenra idade, caracterizando um ser essencialmente
social.
O
que podemos compreender melhor, considerando que:
Ao apontar a base
orgânica da afetividade, a teoria walloniana resgata o orgânico na formação da
pessoa, ao mesmo tempo em que indica que o meio social vai gradativamente
transformando esta afetividade orgânica, moldando-a e tornando suas
manifestações cada vez mais sociais. (FERREIRA e ACIOLY-RÉGNIER, 2010, p.26)
As crises sociais e
instabilidades políticas que marcaram a sociedade da época fundamentaram a
postura do teórico e ativista político frente às concepções pedagógicas.
Refletiram no seu modo de interpretar o sistema educacional, entendendo o papel
da escola na composição da sociedade, bem como a sua conduta na compreensão de
um sujeito em pleno desenvolvimento. Ao valorizar as emoções Wallon pensava em
um sujeito em sinergia com o meio e na escola como um ambiente onde a
afetividade, o movimento e o próprio espaço físico se encontravam em comunhão.
Assim como Piaget,
também defendia o desenvolvimento humano em fases, no entanto sem estabelecer
faixa etária, acreditava no sincronismo da evolução psíquica e
biológica. A vista disso, Wallon entendia as emoções como essencialmente
originárias desse processo orgânico, por assim dizer, a afetividade surgiria
como uma necessidade de resposta ao mundo, à medida que o sujeito interage com
o ambiente a sua volta, com o outro, é solicitado a responder positiva ou
negativamente.
Dessa maneira,
podemos entender, de acordo com FERREIRA e ACIOLY-RÉGNIER: “Assim, em Wallon, a
cognição, como a afetividade, brota das entranhas orgânicas e vai adquirindo
complexidade e diferenciação na relação dialética com o social.” (2010, p.28)
Considerando as três
correntes teóricas é possível concluir que a sua compreensão têm significativa
importância para a educação, já que elucidam todo o processo de aprendizagem
reservando ao professor o importante papel de mediador. Logo, podemos
compreender que tanto a Zona de Desenvolvimento Proximal de Vygotsky, como a
lei de Equilíbrio e Desequilíbrio de Piaget, bem como a relação intrínseca
entre a afetividade e o desenvolvimento cognitivo proposta por Wallon,
trabalham com a possibilidade da formulação de hipóteses, com a problematização
do contexto propício ao conhecimento e privilegiam a interação como condição
essencial a evolução. Visão essa, que evidencia o protagonismo do aluno na
construção do conhecimento, estreita a relação entre educando e educador e delega
a escola o importante papel de concentrar a sua ação em uma relação dialética e
humanista com esses sujeitos.
Referências:
FERREIRA, A.L; ACIOLY-RÉGNIER, N.M. Contribuições de
Henri Wallon à relação cognição e afetividade na educação. Educ. rev. n. 36, p.
21-38, Curitiba 2010.
MONTOYA, Adrián Oscar Dongo. Pensamento e linguagem: percurso piagetiano
de investigação. Psicol. estud., Maringá, v. 11, n. 1, abr. 2006
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